29.6.07

Os paradoxos da minha fé (Parte 3): História

Os paradoxos de minha fé afirmam que:
. Deus escreve a história através das mãos humanas
. Deus age soberanamente levando em conta a liberdade humana
. Deus conhece os fatos que ainda não aconteceram

A pergunta a respeito da relevância destas afirmações para a vida e o relacionamento com Deus e a caminhada no discipulado de Cristo deve ser respondida à luz do paradigma da kenosis. Isto é, o conceito de kenosis me coloca diante da necessidade de viver baseado na segunda metade de cada uma destas afirmações. Nesse caso, o que compete a Deus, fica sob o cuidado de Deus, pois ocupa o espaço do imponderável para minha consciência e compreensão, e não depende de minha vontade ou ação. Devo viver tendo como referência aquilo de que estou consciente e que compreendo e, principalmente, assumindo a responsabilidade daquilo que em boa medida depende de mim.

Creio que Deus escreve a história, agindo soberanamente, e inclusive conhece o que ainda não está escrito. Mas isso, em relação à minha consciência está na categoria do mistério, do imponderável. No meu horizonte de consciência e influência está o fato de que Deus se utiliza de mãos humanas, respeita a liberdade humana, e os fatos ainda não aconteceram. Por esta razão, vivo agindo livremente para construir o futuro em cooperação com Deus. Com licença da expressão, o que Deus está escrevendo, ou fazendo, e o que sabe a respeito do futuro, é problema dele. O meu problema é o que eu estou fazendo, a maneira como uso minha liberdade, e que tipo de futuro existiria se tudo dependesse apenas das minhas escolhas e decisões.

Talvez você pergunte o que tem a kenosis a ver com isso? Respondo que tem tudo a ver, pois a kenosis estabelece o padrão para o relacionamento de Deus comigo. Leio a Bíblia Sagrada como o registro autoritativo da revelação de Deus: quem Deus é – seu caráter, mente e coração, como deseja se relacionar comigo, e como me inclui nEle mesmo e em seu propósito eterno. Leio a Bíblia como o relato de uma grande história na qual Deus vai se desvendando através de seus relacionamentos. E nestes relacionamentos, seja com algumas pessoas específicas ou com uma nação, percebo que o que conta de fato para aqueles que com Ele se relacionam não é sua ação soberana e nem mesmo seu conhecimento do futuro, mas sua grandeza em andar na velocidade destas pessoas. Deus cede espaço para que as pessoas escrevam capítulos de sua história, mesmo incluindo páginas que Ele jamais incluiria; respeita a liberdade dos seus colaboradores; e age como se não tivesse qualquer conhecimento do futuro, fazendo com que seus colaboradores acreditassem naquilo que de fato é: o futuro está sendo construído inclusive por suas escolhas e decisões – Deus não está brincando de liberdade e nem fingindo que as pessoas têm papel preponderante no processo histórico. Deus não se relaciona com marionetes.

Esta postura me coloca diante de um paradoxo: morro de medo de fazer besteira e colocar a história em trilhos não aprovados por Deus, mas ao mesmo tempo acredito de todo o coração que não importa em que trilho eu coloque a história, o destino final está garantido, não por mim, mas por Deus, senhor da história. Em outras palavras, morro de medo de não chegar em Canaã, mas não tenho a menor dúvida de que alguém vai chegar lá.

Para caminhar entre estas duas possibilidades sem enlouquecer, apelo para o Espírito Santo, o Deus em trânsito. Isto me leva à quarta parte dos paradoxos da minha fé.

10 Comments:

Blogger Filipe P. said...

Estou tirando muito proveito dos seus textos, Pr. Ed René, que o SENHOR o abençoe mais e mais.

Gostaria de compartilhar uma analogia bem interessante sobre o Tema Livre-Arbítrio e a nossa capacidade de fazer escolhas.

Ela aparece em uma das cenas do filme matrix.

Em uma das conversas de Neo com o(a) ORÁCULO, quando está diz que ele teria de fazer uma escolha, ele a pergunta:
- Você já sabe o que vou escolher? Se sabe, onde está a minha liberdade para escolher, se quero ou não?
Respondeu então o ORÁCULO:
- Você não está aqui para escolher, você já fez a sua escolha.
- Você está aqui para tentar ENTENDER a sua escolha !

É um ponto de vista interessante para refletirmos, não concordam ?!?

1 abraço.
Graça e Paz

7:22 AM  
Blogger Lou H. Mello said...

Você me lembra um rapaz, seu chará inclusive, que estudou comigo na Faculdade Batista e levava os filhos no Colégio Batista, onde sempre nos cruzávamos e até nos cumprimentávamos. Ele também se tornou pastor. Parece que teve uma passagem rápida pelo litoral e depois assumiu uma igreja batista ali na tua Clélia, na Água Branca, depois mudou. Coincidência não?

3:43 PM  
Anonymous Anônimo said...

Preciso perguntar!! Só ñ tenho certeza se o amado irmão precisa responder. Mas vamos lá!

1°) Me parece q há em seus textos uma definição definitiva, teologicamente falando, do q vem a ser a "kenosis". Por conta de meus estudos, sempre me perguntei se o próprio Paulo se ocupa em tratar desta questão de maneira conclusiva, exata. O q o irmão têm a dizer?

2°) Em termos absolutistas, até onde se deu a "kenosis" de fato? Qual a abrangência dela? Será q isso pode ser assimilado?

3°) O irmão disse q textos, ao meu ver, claramente antropomórficos,ñ o são(Gn 11.5,Gn18.20,21,Gn 22.12). Por que? Será q não é para fundamentar o teísmo aberto (teologia q me atrai)? Quais os critérios q devem definir o q é linguagem antropomórfica ou ñ?

Se o irmão tiver paciência em me responder ficarei grato.

Abraços fraternos.

8:18 PM  
Blogger Unknown said...

Paz irmão! Primeiramente gostaria de dizer que suas palavras tem sido muito abençoadoras em minha vida, tenho usado-as para muitos estudos e reflexões, obtive um grande amadurecimento depois de conhecer este seu espaço...
Sobre os textos faço minhas reflexões: Qual é a imagem que temos feito de Jesus e do que é a igreja?
Tem muita gente querendo viver como um Cristo todo poderoso, com autoridade e riquezas, que se convertem ao seu favor no momento em que reivindicar ou determinar. Mas poucos desejam viver a loucura de Jesus de Nazaré (o homem).
Talvez este tem sido o grande questionamento do que seja igreja,e a igreja é conseguência da revelação de quem é Cristo.Que Deus te abençoe!

11:36 PM  
Blogger Delmo Fonseca said...

Este comentário foi removido pelo autor.

5:52 PM  
Blogger Delmo Fonseca said...

Pr. Ed René, a paz! Agradeço a Deus por este espaço e pelos enfoques nele contidos. Andei relendo um texto de Simone Weil ("A gravidade e a graça") e lembrei de ti. Vale a pena conferir.
Um abraço fraterno.

Pr. Delmo Fonseca

5:57 PM  
Blogger Wander Morínigo Teixeira said...

Andar por esta mata ainda virgem só poderia vir de alguém com um gabarito como o teu!!
Não foi ninguém que to revelou, mas sim através da relação Espírito-espírito.

11:36 PM  
Blogger Fabio Blanco said...

pr. Ed:

Este seu texto foi o mais equilibrado que li referente a esse tema. Saudável e consciente, preciso parabenizar-lhe por ter escrito.

Fique com Deus.

Fabio Blanco
www.discursosdecadeira.blogspot.com

10:08 AM  
Blogger Edson Moura said...

Muito bom pastor, fico feliz porque a cada texto seu que leio, ao invés de encontrar respostas para minhas dúvidas, pelo contrário: Me deixam com mais perguntas e percebo que não estamos sozinhos. O senhor têm criado "pensadores" e isso é muito bom.
Edson Moura

5:28 PM  
Blogger fortunati said...

Introduciamo questo argomento discorrendo inizialmente sul fatalismo teologico o determinismo, che deriverebbe secondo alcuni, e non sono pochi, dalla prescienza divina.
Secondo questa dottrina, la prescienza divina determina a priori le nostre azioni e quindi il nostro destino.
Ma come possiamo parlare di determinismo, se la Bibbia parla chiaramente di libertà e moralità dell’essere umano, sin da Genesi fino ad Apocalisse?
Libertà umana e prescienza divina appaiono inconciliabili, dicono molti teologi, si escludono a vicenda.
Ma se non c’è libertà, come Dio potrà giudicare il peccatore? Se non c’è prescienza, come Dio può essere Dio?
In primo luogo dobbiamo convenire che prescienza non vuol dire assolutamente costrizione.
In secondo luogo dobbiamo ammettere che Dio ha prescienza di ogni cosa, ma questo non significa che sia autore di tutte le cose di cui ha prescienza.
Nella dimensione morale, infatti, ci sono soggetti ampiamente capaci di esercitare il libero arbitrio, come esaurientemente dimostrato.
Anche se possiamo asserire che il Signore, nella sua amministrazione universale, abbia già definito come ogni cosa si esaurirà nella dimensione fisica e che assetto definitivo avrà nella dimensione trascendente, dobbiamo anche ammettere la tesi che questo vale unicamente per il contesto (cosmo), non per i soggetti morali che in esso interagiscono.
Gli atti umani in blocco sicuramente hanno influito e influiscono nelle modalità di questo processo, si relazionano con esso, ma esso non interferisce sulle volontà e sul destino dei singoli soggetti morali.
La predestinazione è quindi conseguenza della prescienza e non la causa dell’azione divina.
L’amministrazione del cosmo e la conduzione di ogni cosa al suo dovuto posto sono sicuramente influenzate dal mondo morale, ma il mondo morale nelle sue attitudini e decisioni non è coatto dal potere presciente di Dio.
Caso così non fosse, tutta l’impalcatura su cui poggia la capacità morale della razza adamica (vedere paragrafo 2) andrebbe a rotoli e dovremo riscrivere quasi l’intera Bibbia.
La rivelazione divina, l’azione benevola di Dio verso l’uomo, l’annuncio di castighi e catastrofi (Apocalisse) hanno il solo obiettivo di far ravvedere l’ente morale, affinché attraverso un libero atto di volontà, accetti ciò che Egli ha fatto per la sua salvezza.
La grazia allora può operare il miracolo della rigenerazione, attraverso Gesù che ha pagato, affinché il creato, deteriorato dal peccato, ritorni nella condizione originale, quando la Parola afferma: “Dio vide tutto ciò che aveva fatto ed ecco era molto buono” (Gen. 1.31).

7:08 PM  

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Ed René Kivitz
Pastor da Igreja Batista de Água Branca (São Paulo), autor e conferencista.
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